Luto pra não me entregar. Luto por não haver mais nada. Luto pra esquecer. Luto por lembrar. Luto por ter me perdido. Luto pra me reencontrar. Luto cansado, desgastado, repetidamente em frangalhos. Luto por palavras doces dissolutas. Luto por dores amargas e resolutas. Luto pela batalha perdida. Luto pelo sal na ferida. E ainda assim, luto. Luto para me apegar às coisas ruins – mas é pelas boas que o luto se justifica. Luto pra achar uma ilha onde eu já vivi. Luto contra a correnteza, contra a gravidade sufocante e convidativa do fundo. Luto para segurar o leme, para manter o rumo e aprumar as velas. Luto pra não acender uma vela. Luto por conter a chama. E, sobretudo, luto para manter o verbo e afogar o substantivo.
O Cristo me rendeu. Quedei-me ajoelhado diante do seu esplendor. Nessa cidade, me mudei. A necessidade me mudou. O coração tenta se desligar e ligar em cada batida. A rua pulsa, vibra e pisca. Nada é tão fácil. Nada é tão difícil. Nadar é que é necessário. Contra correntes ou a favor delas. Estou achado de amor! Voltei pra mim. Saudade grande. Aposto na Sena que ninguém me entende cristalinamente. Aceno. Dei vinho ao meu desejo e ele não me deu ressaca. Acho que sei beber. Um mar de ressaca invadiu a praia. Loucura normal. O medo... Ah, o medo! Seria um bicho? Seria um monstro? Sujeitos ocultos cada vez menos ocultos: eu, ele, você. Nós rezamos a mesma oração. As verdades, as mentiras. As cores e as trapaças: as flores e a desgraça. Só as rosas são sinceras.